4º Fórum do Codesc

Fim da modernidade

Os intensos movimentos do mundo principalmente nas últimas décadas estão conectados a um fenômeno cíclico que acompanha a humanidade desde o início dos tempos. É o rompimento de uma e o início de outra época. “Estamos experimentando o fim dos grandes sistemas consagrados nos últimos séculos. Esses modelos estão saturados, a ideologia dominante foi ultrapassada e o progressismo se tornou destrutivo”, disse durante o 4º Fórum do Conselho de Desenvolvimento Econômico Sustentável de Cascavel, o professor da Sorbone (França) Michel Maffesoli. Mais de 300 pessoas participaram do evento, que foi realizado na noite de quinta-feira no Auditório Cascavel, na Acic, e teve abertura do presidente do Codesc, Alci Rotta Júnior.

A grande crise que se instala no mundo, e que em alguns lugares converge para as mais diversas áreas, está ligada ao fim da modernidade. São as dores do encerramento do linearismo e do fim da educação como a conhecemos para o surgimento de um novo processo, a iniciação, ressaltou Maffesoli. A educação moderna é focada na autonomia, no indivíduo, em um processo de poder baseado no saber. Assim, o que sabe mais domina e se impõe ante o que sabe menos. “Para entender com clareza o que está acontecendo é imprescindível reconhecer e compreender a ideia dominante de uma época”, disse o professor, que citou o filósofo Michel Focault: “Não é possível entender uma sociedade sem compreender a sua Episteme, ou seja o conhecimento que essa sociedade tem dela mesma”.

Citando nomes como Sigmund Freud, Gilbert Durand e Ortega Gasset, Maffesoli ofereceu informações suficientes para que os presentes pudessem seguir a linha de raciocínio da apresentação. A partir da infraestrutura mental, sugerida pelo psicanalista austríaco, é possível decifrar a sociedade e a civilização de uma forma geral. Já Durand propõe o acesso a uma leitura real a partir do irreal e Gasset teoriza sobre a atmosfera que condiciona a maneira do ser pensar. “Estamos em um processo de saturação. A sucessão dos séculos demonstra que, em um determinado momento, a cultura não funciona mais. O politicamente correto, palavras impertinentes, tudo está em exaustão”, conforme o professor Maffesoli.

Inédito
A mudança de ciclo em curso vem acompanhada de uma novidade, que é a transição do poder do palácio para o discurso do povo. A modernidade está alicerçada no projeto, que é o pensar a vida individualmente e conectada com o futuro. A lógica está nas teorias do francês René Descartes, que a partir do “penso, logo existo” promoveu uma revolução filosófica. Até o século 17, pensar por si só era considerado um ato de heresia, que afrontava o pensamento dominante. Com a revolução protestante há mudanças também na religião e de como as pessoas passaram a se comportar diante dela. Os alicerces da educação moderna são então estabelecidos no século seguinte, a partir do contrato social e de cada um poder construir a sua própria história.

Segundo Michel Maffesoli, com a pós-modernidade haverá uma inversão de polaridade. A ruptura do ciclo atual começou no fim dos anos 70 e as primeiras manifestações ocorreram na arquitetura, com obras que até hoje parecem surreais. Agora, em um estágio mais agudo de mudanças, a educação tradicional dará lugar à iniciação. Uma das pistas de como ela será está em livros e filmes de ficção, segundo o professor da Sorbone. O ritual de iniciação é o começo de uma conexão com o outro ou um grupo. “É similar a um processo que já existiu em sociedades primitivas”, conforme Maffesoli. O nascer com o outro não mira o futuro e sim o aqui e agora. “É a ideia de fazer da sua vida uma grande obra de arte”, explicou o professor.

Com a iniciação sai o indivíduo e entra o coletivo. Há um retorno ao emocional, ao instintivo, ao primitivismo. “São a sintonia, as vibrações e as emoções que fazem com que sejamos nós e não eu”. Essas definições, conforme sugeriu Maffesoli, conduzem à ideia de tribo, onde há o compartilhamento de gostos e temas de interesse comum. Tudo aliado à cibercultura. “A iniciação não é pela autonomia, é pela heteronomia, um ambiente social no qual eu só existo pelo olhar do outro. Eu não falo, eu sou falado”. A iniciação, seguiu Mafessoli, precisa da autoridade em oposição ao poder. Deixará de existir a verticalidade da lei do pai para a predominância da horizontalidade dos irmãos. “Cada época sonha com a próxima. E devemos sonhar, porque senão o sonho vira pesadelo”, alertou o professor francês.

E o Brasil?
Enquanto o mundo desenvolvido está muitos passos à frente quando o assunto é transição da modernidade para a pós-modernidade, o Brasil ainda tenta se entender com conceitos básicos da educação convencional. Giovana Punhagui e Fabiane Franciscone, do Sistema Fiep, apresentaram indicadores e situações do cotidiano escolar que explicam alguns dos motivos para o País aparecer em posições vergonhosas em rankings mundiais de educação.

Como contraponto, Giovana e Fabiane apresentaram um sistema de ensino de sucesso adotado no Colégio Sesi, ligado à Federação das Indústrias. Lá, com base em pesquisas com alunos, criou-se uma nova dinâmica de ensino, na qual o aluno, com orientação do professor e uso das novas ferramentas tecnológicas, é o protagonista do processo de formação e soluções aos problemas propostos. Depois, o professor Gelson Luiz Uecker comandou um talk show que encerrou a programação do fórum. Os debates, a partir do fio condutor apresentado por Maffesoli, terão sequência no Conselho de Desenvolvimento.

Legenda: O professor da Sorbone, Michel Maffesoli, apresentou uma reflexão profunda sobre a mudança de ciclos que a humanidade experimenta

Legenda: Talk show aprofundou debate sobre o ensino e suas conexões com as novas tecnologias

Crédito: Assessoria